Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem, Museu Nacional, UFRJ

História do LAP

As origens do LAP são fortemente relacionadas ao estabelecimento da Arqueobotânica no Brasil. Até o final dos anos 1990, eram poucas as pesquisas em arqueobotânica no país, consistindo apenas em algumas identificações de macrovestígios de plantas geralmente realizadas por botânicos sem maior envolvimento com a arqueologia. Estudos sistemáticos, marcados por preocupações teóricas, metodológicas e interpretativas, começaram a partir dos esforços de Rita Scheel-Ybert, em seu trabalho de doutorado, que também deu origem à primeira coleção de referência de carvão tropical do mundo. Essa coleção foi iniciada em 1994, abrangendo diversos biomas brasileiros. Além de ser a primeira, tornou-se a maior coleção dedicada a espécies tropicais do mundo, e até 2018 era também a segunda maior antracoteca existente.

O núcleo de pesquisas que mais tarde veio a ser formalizado como o LAP teve início em maio de 2002, sob a coordenação de Rita Scheel-Ybert, fazendo pesquisas em Antracologia. Nosso primeiro laboratório ocupava uma salinha dentro da Casa de Pedra, no Horto Botânico do Museu Nacional, e inicialmente dispunha apenas de um microscópio de luz refletida, a coleção de referência antracológica (antracoteca), dois computadores e uma biblioteca. Em 2004 o “Laboratório de Antracologia” foi transferido para uma sala situada no prédio da Biblioteca Central, e em 2006 passamos a ser abrigados pelo Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional. De 2008 a 2011, nossa equipe fez parte do “Laboratório de Paleoecologia Vegetal” (LAPAV), um laboratório multidisciplinar que tinha a dupla coordenação de Rita Scheel-Ybert, pelo Departamento de Antropologia, e de Marcelo de Araujo Carvalho, pelo Departamento de Geologia e Paleontologia. Foi a partir do ano de 2008 que nossa equipe começou a realizar estudos em Microarqueobotânica. Em 03 de janeiro de 2012, já em uma nova sala do Departamento de Antropologia, no 3º andar do Palácio do Museu Nacional, foi fundado o atual Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem.

Ao longo dessa trajetória, este núcleo se estabeleceu como o primeiro centro de pesquisas em Arqueobotânica do Brasil e o primeiro do mundo em Antracologia Tropical. Por seu pioneirismo e por suas pesquisas multi e transdisciplinares, nossa equipe se estabeleceu como referência em pesquisa e ensino, atraindo estudantes e profissionais de todo o Brasil e do exterior, tanto para formações continuadas ao nível de Pós-Graduação ou Iniciação Científica, como para cursos, estágios ou colaborações de curta duração.

Em 02 de setembro de 2018 o Museu Nacional foi duramente atingido por um trágico incêndio que destruiu grande parte de seu acervo. O LAP foi significativamente afetado, perdendo toda a coleção de material arqueológico, a coleção de referência de microarqueobotânica, a carpoteca, a xiloteca e a maior parte da antracoteca, além de sua biblioteca e de seus equipamentos ópticos e outros. Felizmente, a coleção de carvão tropical não foi completamente perdida, pois duplicatas de algumas amostras encontravam-se armazenadas fora do prédio do Palácio e existem duplicatas da maior parte das amostras carbonizadas na coleção do DBAE em Montpellier, na França (Equipe Dynamiques de la Biodiversité et Anthropo-Ecologie – ISEM UMR 5554, Institut des Sciences de l’Evolution de Montpellier).

Após o incêndio, o LAP ficou temporariamente abrigado na Casa de Pedra, onde dividiu o espaço físico com o “Laboratório de Arqueologia Casa de Pedra”. Atualmente o Laboratório está localizado, ainda em caráter temporário, no prédio do Departamento de Botânica, no Horto Botânico do Museu Nacional. Nossa equipe vem trabalhando na reconstrução do laboratório, ao mesmo tempo em que continuamos investindo em nossa missão científica de pesquisa e de difusão do conhecimento, lecionando, formando alunos e realizando ações de divulgação científica e extensão.

Nosso Logo

O logo do LAP, criado em 2012, é livremente inspirado em uma pintura rupestre do Parque Nacional da Serra da Capivara. No riquíssimo contexto arqueológico dessa região, que reúne o que é considerado como uma das maiores e mais espetaculares concentrações de pinturas rupestres do mundo, a “cena da árvore” é uma figura emblemática recorrente. Essa cena aparece em diversas variações, sempre apresentando figuras humanas dispostas em torno de uma árvore ou ramo, no que é interpretado como um ritual coletivo no qual as pessoas manifestam, “pela linguagem de seus gestos, a importância outorgada à espécie apresentada” (Pessis, 2003; Justamand et al., 2018).

A escolha dessa composição teve por objetivo, de um lado, destacar o trabalho do Laboratório em tanto que centro de pesquisas focado nas pessoas, nas relações sociais, e em suas relações com o mundo vegetal; e de outro, destacar a importância das plantas não apenas como alimento, combustível e matéria-prima, mas também como elemento fundamental em atividades cerimoniais, mágicas ou místicas, sem esquecer seus aspectos medicinais e recreacionais.

A escolha desse tema para nosso logo visa lembrar que as plantas são centrais e indissociáveis da vida humana. Que elas caracterizam a paisagem na qual circulamos, nos nutrem, sustentam, abrigam, aquecem, curam, divertem, constroem… E que nossos trabalhos têm por objetivo, através da investigação dos vestígios vegetais e da compreensão das relações entre humanos e plantas, reconstituir modos de vida passados em seus mais diversos contextos, não apenas no âmbito doméstico e econômico, mas também no que se refere a aspectos rituais, sociais e políticos.

 

Referências citadas:

  • Pessis, Anne-Marie. 2003. Imagens da pré-história. Parque Nacional Serra da Capivara. FUMDHAM/PETROBRAS.
  • Justamand, Michel; Suelly Amâncio Martinelli & Gabriel Frechiani de Oliveira. 2018. As principais teorias explicativas acerca da arte rupestre: O uso da magia no Parque Nacional Serra da Capivara-PI, Brasil, um estudo de caso. Anuario de Arqueología, Rosario, 10: 93-110.

 

Fotos: à esq.: Cena da árvore na Toca da Extrema II (Rita Scheel-Ybert, 2013); à dir.: Logo do LAP fotografado em um panfleto para o evento do Aniversário do Museu Nacional (Thaylane C. Nascimento, 2019)